Custo do País afasta fabricante de software

Há dois anos, os brasileiros John Lima e Daniel Dalarossa venderam a Cyclades, empresa de equipamentos de rede, para a americana Avocent, por US$ 90 milhões. Lima criou, então, uma nova empresa, chamada Coffee Bean Technology, em Pleasanton, na Califórnia. A idéia era montar uma equipe no Brasil, desenvolvendo software para a Coffee Bean, que tem dois projetos de internet. Ele contratou dois programadores em Campinas e, quando foi recrutar um gerente de software, descobriu que saía mais barato um profissional americano, trabalhando no Vale do Silício.

"No momento, não vamos contratar mais gente no Brasil", afirmou Lima, decepcionado. "Tínhamos planos de contratar mais três profissionais no curto prazo." O empresário planejava implementar na Coffee Bean a mesma estratégia que usou com a Cyclades: manter uma equipe de pesquisa e desenvolvimento no Brasil para atender ao mercado global, aproveitando o conhecimento técnico existente no País, com custos mais baixos.

"O País precisa de uma reforma fiscal e trabalhista", disse Lima. "O Brasil não consegue bater em custos de mão-de-obra de engenharia de software nem comparado com os Estados Unidos." Em um levantamento que fez, descobriu que os salários de programadores com menos experiência ainda são mais baixos no Brasil, mas que o mesmo não ocorre com profissionais mais qualificados.

O software foi escolhido como uma das quatro prioridades da política industrial no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar disso, pouco foi feito de concreto para incentivar a exportação de software e de serviços de tecnologia da informação, como manutenção de sistemas remotos e gerenciamento de servidores. A previsão do governo era que as vendas para o exterior chegassem a US$ 2 bilhões no ano passado. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom), foram exportados cerca de US$ 800 milhões em software e serviços em 2007.

Antonio Carlos do Rego Gil, presidente da Brasscom, não comentou o caso específico da Coffee Bean, mas falou do problema dos encargos trabalhistas na exportação de software. "De uma maneira geral, o salário médio de um profissional brasileiro é competitivo com os salários médios da Índia", disse Gil. "O preço é que não é competitivo, pois existe um acréscimo de 100% de encargos sociais e trabalhistas. O Brasil, definitivamente, não é competitivo."

Apesar da falta de política pública adequada, o Brasil tem atraído o interesse de empresas internacionais que buscam uma alternativa aos indianos como fornecedores de serviços de tecnologia da informação. No mês passado, Gary Reiner, vice-presidente sênior e responsável pela tecnologia da informação na General Electric (GE), visitou o País para conversar com prestadores de serviços locais.

Atualmente, as companhias indianas recebem cerca de 90% dos US$ 800 milhões que a GE gasta por ano nesse tipo de serviço. Ele ficou bem impressionado com o que encontrou aqui, mas apontou os encargos trabalhistas como um problema. Gil almoçou com Reiner para falar sobre o mercado brasileiro. "Para empresas estrangeiras, a decisão sobre fechar contratos no Brasil é uma questão de preço", explicou o presidente da Brasscom. "É preciso diminuir os encargos."

Veja a matéria completa aqui.

Fonte: Estadão

0 comentários: